quarta-feira, 17 de março de 2010

Falando um pouco sobre Frevo.

O Frevo surgiu no final do século XIX e originou-se a partir de gêneros como a Marcha, o Dobrado o Maxixe e as Modinhas. Essa mistura de sentimentos mais ¨mundanos¨(que tratavam as letras das modinhas) e das síncopes irreverentes do Maxixe se contrapondo ao rítmo austéro das marchas e dobrados militares são alguns fatores que até hoje impressionam por se complementarem tão bem,mesmo parecendo tão díspares em uma primeira análise. Isso sem falar na dança (passo), que também abriga em seu nascimento a figura do capoeirista que protegia os seus grupos dos rivais com algumas armas. Armas estas, que aos poucos foram se transformando até surgirem as sombrinhas coloridas que hoje conhecemos.
A palavra Frevo, vem de ferver (o melaço da cana) e que pronunciada erroneamente (frever) à época do Carnaval, foi tomando vulto pois as pessoas saiam dos seus lugares para virem fazer a festa agitar (ferver, frever) e por neologismo criaram naturalmente a palavra frevar que mais tarde seria registrada pela primeira vez num Jornal chamado Jornal pequeno pelo jornalista Oswaldo Oliveira. Isso ocorreu no dia 9 de Fevereiro de 1907.
O frevo ao longo dos anos vem sofrendo algumas transformações tanto no que condiz a velocidade quanto à instrumentação. Os andamentos hoje são mais acelerados, talvez por infuência da própria mudança do rítmo de vida das pessoas que difere muito do século passado, ou pela busca as vezes excessiva dos próprios instrumentistas, já que o gênero impressiona pelo dificuldade técnica . Na instrumentação várias mudanças podem ser observadas. A ausência das tubas que foram substituídas pelo contrabaixo elétrico por exemplo, é apenas uma das muitas modificações que gradativamente apareceram em orquestras e grupos e que definitivamente também influenciaram não apenas em mudanças de textura e cor, mas em alterações no andamento , pois com a tuba determinadas passagens em rítmos muito ¨puxados¨ seriam praticamente impossíveis de se fazer.
O frevo pode ser divido em três tipos, sendo eles: Frevo de bloco, onde o andamento é mais lento, com acompanhamento de um grupo de pau e cordas e com vozes de um coro feminino. As letras são geralmente saudosas e em muitas situações falam de um Recife antigo que já não volta mais. Óbvio que muitos compositores atuais já desenvolvem outras temáticas, mas o lirismo seria o fator preponderante nos Frevos de bloco. Edgar Moraes é um compositor que quem quer conhecer o estilo seria de audição obrigatória. Getúlio Cavalcante é um dos maiores representantes da geração mais atual, e tem vasta obra também à ser pesquisada. Já no Frevo canção, o andamento acelera e as letras são mais voltadas para o cotidiano. Esse terá algumas similaridades com o frevo de Rua em termos de velocidade e principalmente nas articulações de suas introduções. Capiba foi um compositor com uma quantidade muito grande de frevos canção, muitos deles imortalizados pela voz do seu maior intérprete, Claudionor Germano. Hoje Alceu Valença é sem dúvida alguma o cantor com maior número de sucessos gravados e executados. Roda e avisa de Edson Rodrigues e J. Michiles é uma das muitas músicas que embalam os carnavais recifenses há bastante tempo. Por fim temos o Frevo de rua que é apenas instrumental . Este pode ser dividido em três sub grupos: Frevo coqueiro onde aparecem muitas notas agudas que são emitidas pelos metais. Um bom exemplo é a música Último dia do Mestre Levino Ferreira, onde os trompetes tem posição de destaque na execução da parte A do tema. O segundo tipo de Frevo de rua é o Frevo Abafo que tem como característica as notas tocado com muita força exigindo menos articulação. Esse é um frevo de impacto e geralmente é tocado
nos confrontos das orquestras pelas ladeiras de Olinda onde o objetivo principal é uma orquestra literalmente abafar a outra . O grande mestre desse gênero é o Maestro Nunes autor de centenas de frevos que tem como característica a singeleza nas suas melodias e um grande apelo popular. Músicas como Cabelo de fogo por exemplo, se tornaram verdadeiros hinos e demonstram claramente a força do frevo abafo. O terceiro nesse filão do sub grupo dos frevos de Rua é o Frevo ventania. Esse frevo destaca muito as palhetas e é de execução dificílima. Mexe com tudo de Levino Ferreira é um ótimo exemplo de como escrever para engasgar qualquer saxofonista do planeta. Zumba, Carnera, Levino Ferreira, Nelson Ferreira, Edson Rodrigues, Clóvis Pereira, José Menezes, Ademir Araújo, e Maestro Duda são alguns nomes de grandes compositores de Frevos de Rua. Audição obrigatória para quem quer se adentrar nesse universo da música pernambucana.

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